17.06.2025
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Por que algumas operações de M&A não dão certo?

Ao fecharmos uma operação de M&A, é incerto se aquele investimento trará o retorno desejado aos investidores ou se as expectativas de crescimento do negócio serão alcançadas.

Recentemente, foi anunciada a fusão do grupo SOMA com a Arezzo, com faturamento consolidado de R$ 12 bilhões. Porém, apenas alguns meses após o “casamento”, os jornais passaram a noticiar que os sócios estão pensando em “divórcio”.

Os resultados operacionais ruins e a desvalorização das ações mostram problemas na operação que criou o maior grupo de moda do Brasil. Na mesma esteira, a estratégia da ZAMP de formar o maior conglomerado de redes de restaurantes, com marcas como Burger King, Starbucks e Subway, tem demonstrado enormes desafios, com prejuízos e alavancagem operacional muito alta.

É verdade que não podemos prever o futuro, mas podemos, pelo menos, aprender com o passado. O que essas e tantas outras operações de M&A nos mostram é que muitas decisões de investimento são tomadas com base em premissas equivocadas. Parece óbvio, mas não é.

Estudos sobre psicologia financeira indicam que a tomada de decisão de investimento é influenciada por fatores emocionais, como medo, ganância, otimismo excessivo ou pessimismo, que podem levar a escolhas impulsivas e pouco estratégicas.

Esses estudos revelam ainda que investidores são propensos a vieses como o viés da ancoragem (fixar-se em informações iniciais), o viés da aversão à perda (priorizar a prevenção de perdas em relação a ganhos) e o viés de confirmação (buscar informações que confirmem suas crenças).

Portanto, não é errado dizer que as premissas de uma operação de M&A são sustentadas por um grupo de pessoas que possuem vieses e tomam decisões com emoção.

Com 20 anos negociando operações de M&A, arrisco dizer que há um grupo poderoso de premissas que, a depender da dose, passam de remédio a veneno num piscar de olhos. Aqui vão elas:

A razão para fazer uma operação de M&A

O interesse para realizar a transação pode não ser aquele que se declara. A posição nem sempre reflete o interesse. Nem tudo o que se apresenta como razão para fazer a operação corresponde ao interesse real da parte. Na mesa de negociação, não raramente as posições divergem dos interesses. Uma empresa pode estar buscando investidor para trazer liquidez de curto prazo — ou seja, para “não quebrar” —, apesar de dizer ao investidor que busca um parceiro estratégico para trazer eficiência e gestão profissional ao negócio no longo prazo.

Nesse caso, o interesse é conseguir dinheiro barato no curto prazo, mas a posição é vender visão estratégica e profissionalismo a longo prazo. Muitas operações são fechadas com interesses e posições desalinhadas. O problema surge quando esse desalinhamento impacta, inevitavelmente, o comportamento dos sócios e o futuro do negócio. Por isso, é fundamental estar assessorado por bons negociadores, capazes de extrair o real interesse da outra parte antes de concluir uma operação.

Sinergias milagrosas em operações de M&A

No PPT cabe tudo — inclusive ganhos de eficiência milagrosos, as famosas “sinergias”. Sinergia é como aquela roupa comprada pela foto do site, mas que, ao chegar, revela tecido de baixa qualidade e modelagem ruim. Não existe sinergia planejada que consiga sobreviver, por exemplo, à integração de culturas empresariais muito diferentes, à falta de vontade dos altos executivos ou a operações complexas e difíceis de transformar. Cuidado com o que você compra de eficiência apresentada em PPTs: muitas vezes, elas não se concretizam.

Alavancagem alta

Existe uma máxima no mercado financeiro: “cash is king”. Mas as pessoas esquecem disso na hora de fazer uma transação. Num país em que a taxa de juros e o câmbio variam como em uma montanha-russa, não se pode brincar com a alavancagem do negócio.

Contratar endividamento elevado para comprar uma empresa e esperar que o crescimento futuro pague a conta é arriscado. Sem falar em empréstimos internacionais em busca de taxas melhores, mas que expõem o negócio ao risco cambial (principalmente quando a receita está em reais), além de custos adicionais com operações de hedge.

Diga com quem andas, que te direis quem é

Talvez a premissa mais desprezada de todas seja a dinâmica humana entre os sócios. Negócios são feitos por pessoas — e pessoas importam, e muito. Avalie com quem está fazendo negócio antes de embarcar em uma operação, pois é com essa pessoa que você terá de contar quando surgirem as dificuldades.

Investidores, muitas vezes, ignoram os sinais de conflito com futuros sócios durante o processo de M&A, esperando que, após a conclusão, tudo melhore. Acredite: não melhora. Saiba com quem está “casando” e avalie se você é capaz de lidar com os defeitos daquela pessoa.

Se o futuro é incerto, podemos, pelo menos, estar preparados para ele, revisitando as premissas com imparcialidade, através de contratação de assessores sérios e experientes, que poderão auxiliar as partes na condução da melhor transação para elas.

Artigo publicado originalmente no site da revista Fusões e Aquisições. Clique aqui para acessar

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