Este podcast do canal Notícias Agrícolas explora o papel crescente do mercado de capitais no financiamento do agronegócio brasileiro, destacando o Fiagro como um instrumento chave.
A entrevista com o sócio Renato Buranello, especialista em Direito do Agronegócio, discute como o Fiagro (Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais), está permitindo que produtores rurais acessem recursos financeiros de investidores privados, superando as limitações dos financiamentos governamentais tradicionais.
O podcast também aborda a importância da sustentabilidade, da gestão de riscos e do seguro rural para atrair investidores e reduzir as taxas de juros. Além disso, são discutidos os desafios das recuperações judiciais no setor e o impacto da tributação sobre o Fiagro.
Buranello enfatiza que os produtores precisam se profissionalizar e buscar novas fontes de financiamento para garantir o futuro do agronegócio brasileiro.
Confira, abaixo, o bate-papo completo sobre o papel do mercado de capitais no financiamento do agronegócio:
Desafios:
Recursos oficiais limitados: Há uma diminuição dos recursos disponibilizados pelo governo para o financiamento do agronegócio, o que dificulta o acesso dos produtores a esses investimentos.
Sistema financeiro tradicional restritivo: Nem sempre o sistema financeiro tradicional consegue disponibilizar os recursos no tempo e na quantidade necessária para os produtores.
Taxas de juros: As taxas de juros estão ligadas ao cenário macroeconômico, o que pode limitar o financiamento direto dos bancos.
Risco do agronegócio: A dificuldade na análise e conclusões de risco no agronegócio pode tornar a taxa para o produtor mais cara, devido a fatores como riscos de natureza, questões regulatórias e ambientais.
Recuperações judiciais: O aumento no volume de recuperações judiciais no setor pode ser um problema para o mercado de capitais e para os investidores do Fiagro. A falta de fixação de taxa e má gestão de risco também contribuem para o endividamento.
Tributação: A tributação sobre os fundos de agronegócio pode onerar os produtos e restringir a evolução do setor.
Necessidade de transparência e governança: É preciso que o setor dê mais transparência e tenha melhor governança para acessar novas possibilidades e operações financeiras.
Oportunidades:
Mercado de capitais: O mercado de capitais surge como uma ferramenta importante para auxiliar o produtor no financiamento, permitindo que investidores foquem em colocar suas economias no setor. O mercado de capitais está crescendo e se consolidando como uma alternativa relevante.
Fiagro (Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais): O Fiagro surge como um fundo dedicado às cadeias de produção agroindustriais, permitindo que o fundo compre diretamente Cédulas de Produto Rural (CPR). A nova regulamentação do Fiagro unificou as regras, estimulando o investimento no setor.
Títulos do Agro: Títulos como CPR, CDCA, LCA e CRA vieram para auxiliar no financiamento do agronegócio, com o governo oferecendo incentivos para atrair poupança para o setor.
Sustentabilidade: A questão da sustentabilidade e o uso de processos produtivos mais sustentáveis representam uma oportunidade para atrair recursos de outros investidores, através de títulos verdes (Green bonds).
Remuneração por serviços ambientais: A remuneração dos produtores rurais pelos serviços ambientais que realizam pode ser uma fonte de receita adicional.
Seguro rural: O seguro rural é apontado como um item prioritário na agenda do agronegócio, pois pode reduzir o risco eBaratear o crédito. Políticas agrícolas que deem mais ênfase ao seguro podem ser benéficas.
Securitização: A securitização de títulos não padronizados, como duplicatas e CPRs, pode ser uma forma de atrair investidores para o setor.
Incentivos fiscais: A isenção fiscal para pessoas físicas em operações de CRA é um atrativo para o investidor.
O Fiagro se relaciona com títulos imobiliários porque o modelo do mercado imobiliário foi usado como base para a criação do Fiagro. Assim como existem Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) no mercado imobiliário, o Fiagro possui o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Além disso, da mesma forma que existe a Letra de Crédito Imobiliário (LCI), há a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA).
O podcast também aponta que, inicialmente, as regras para o Fiagro imobiliário eram “emprestadas” do mercado imobiliário para financiar imóveis rurais, até que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) estabeleceu uma regulamentação específica para o Fiagro. Essa nova regulamentação unificou as regras para os diferentes tipos de Fiagro (imobiliário, direitos creditórios e participações), estimulando o investimento no setor.
Essa relação com o mercado imobiliário também se manifesta no interesse de investidores do setor imobiliário em migrar para o agronegócio através do Fiagro. Buranello observa que investidores que antes atuavam no mercado imobiliário têm procurado o agronegócio, buscando aplicar seus recursos em um setor considerado um dos motores da economia.
O Fiagro imobiliário pode ser usado para a gestão patrimonial de famílias de produtores, colocando o imóvel rural no fundo e permitindo que a família continue participando e recebendo dividendos do ativo. Além disso, o fundo pode investir em áreas degradadas, aplicando recursos no desenvolvimento da área e dividindo os resultados com os cotistas, gerando valorização imobiliária rural.
Para acessar o mercado de capitais no contexto do agronegócio brasileiro, tanto produtores quanto investidores podem seguir diferentes caminhos, conforme apresentado no podcast.
Para o Produtor Rural:
Emissão de CPR: O produtor pode emitir uma Cédula de Produto Rural (CPR), que funciona como uma “duplicata” do agronegócio. Essa CPR pode ser conectada a um CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e levada ao mercado, permitindo ao produtor obter recursos antecipados.
Acesso via agentes do mercado: O produtor pode buscar gestoras, bancos e outros agentes do mercado de capitais que estão promovendo o financiamento através desses títulos. Esses agentes conectam o produtor aos investidores, facilitando o acesso ao capital.
Participação em Fiagro: O produtor pode acessar recursos através de Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagro), que podem comprar diretamente a CPR emitida pelo produtor.
Securitização de recebíveis: Caso o produtor tenha uma carteira de duplicatas, CPRs ou outros papéis, ele pode securitizá-la, transformando-a em títulos padronizados que podem ser oferecidos a investidores.
Estar atento às taxas e riscos: É importante que o produtor esteja ciente de que as taxas de juros no mercado de capitais podem ser influenciadas pelo risco do agronegócio. Quanto menor o risco percebido, menores as taxas.
Para o Investidor:
Compra de títulos do Agro: O investidor pode aplicar seus recursos na compra de títulos como CRA, LCA, CDCA, LC. Esses títulos são emitidos por empresas do setor e oferecem rentabilidade atrelada ao desempenho do agronegócio.
Investimento em Fiagro: O investidor pode adquirir cotas de Fiagros, que são fundos de investimento que aplicam em diferentes ativos do agronegócio, como imóveis rurais, direitos creditórios e participações em empresas.
Acompanhamento do mercado: É importante que o investidor acompanhe o mercado e busque informações sobre as empresas e os títulos em que está investindo. A transparência e a governança são importantes para mitigar riscos.
Considerar a isenção fiscal: Investidores pessoa física têm isenção de imposto de renda sobre os rendimentos de alguns títulos do agronegócio, como o CRA, o que torna esses investimentos mais atrativos.
Considerações adicionais:
Profissionalização e governança: O podcast enfatiza a importância de o produtor rural profissionalizar sua gestão e adotar boas práticas de governança para atrair investidores e obter melhores condições de financiamento.
Sustentabilidade: A preocupação com a sustentabilidade é crescente no mercado financeiro. Produtores que adotam práticas sustentáveis têm mais chances de atrair investidores e obter recursos com taxas mais favoráveis.
Seguro rural: A contratação de seguro rural pode reduzir o risco percebido pelos investidores e, consequentemente, diminuir as taxas de juros.
Informação e assessoria: Tanto produtores quanto investidores devem buscar informações e assessoria especializada para tomar decisões mais conscientes e aproveitar as oportunidades do mercado de capitais.
Diversos riscos podem afetar a taxa de juros no agronegócio. De acordo com o Buranello, os principais fatores que influenciam a taxa de juros no setor são:
Risco do agronegócio: A taxa de juros é influenciada pelo risco percebido no agronegócio. Quanto maior o risco, maior a taxa de juros exigida pelos investidores. Esse risco pode estar relacionado a fatores como:
Risco de natureza: Questões climáticas, como secas e eventos climáticos extremos, podem afetar a produção e, consequentemente, a capacidade de pagamento dos produtores.
Questões regulatórias: Dificuldades no licenciamento e questões ambientais podem aumentar o risco percebido.
Dificuldade na análise de risco: A falta de informações precisas e a dificuldade em avaliar os riscos específicos do agronegócio podem levar a uma precificação inadequada do risco e, consequentemente, a taxas de juros mais elevadas.
Tamanho do produtor: Inicialmente, o acesso ao mercado de capitais era mais restrito a grandes produtores, considerados mais seguros pelos investidores. No entanto, com o tempo, o mercado tem se pulverizado, permitindo que produtores menores também acessem esses recursos.
Recuperações judiciais: O aumento no número de recuperações judiciais no setor pode gerar insegurança no mercado e retrair o crédito privado. A percepção de que o risco de inadimplência é maior pode levar a um aumento das taxas de juros.
Falta de seguro rural efetivo: A ausência de um sistema de seguro rural eficiente no Brasil dificulta a mitigação dos riscos climáticos e de produção, o que pode elevar as taxas de juros.
Sustentabilidade: A falta de práticas sustentáveis e a dificuldade em comprovar a sustentabilidade da produção podem afastar investidores e aumentar as taxas de juros. A agenda global de sustentabilidade tem levado investidores a buscarem ativos que atendam a critérios ambientais, sociais e de governança (ESG).
Melhorar a análise de risco: Utilizar a tecnologia para aprimorar a análise de risco no agronegócio.
Desenvolver o mercado de seguros: Fortalecer o sistema de seguro rural para proteger os produtores de perdas decorrentes de eventos climáticos e outros imprevistos.
Incentivar práticas sustentáveis: Promover a adoção de práticas agrícolas sustentáveis e remunerar os serviços ambientais prestados pelos produtores.
Profissionalizar a gestão: Incentivar os produtores a profissionalizarem sua gestão e adotarem boas práticas de governança.
É importante notar que a isenção fiscal para pessoas físicas em alguns títulos do agronegócio, como o CRA, pode ser um atrativo para investidores, compensando, em parte, o risco percebido e contribuindo para a manutenção de taxas de juros mais competitivas.