A projeção da consultoria McKinsey de que o mercado de tokens terá capitalização entre US$ 1 trilhão e US$ 4 trilhões até 2030 acende um alerta sobre como o setor pode oferecer soluções para diferentes segmentos, como, por exemplo, o mercado imobiliário e para ações judiciais. As possibilidades, na verdade, são infinitas, segundo Erik Oioli, especialista em Regulação do Mercado Financeiro.
Convidado pelo Núcleo de Assuntos Societários (NAS), do Conselho de Orientação e Serviços (COS) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), para debater o tema, Oioli diz que, não por acaso, o blockchain e a tokenização têm sido apontados como potências da Web3, tida como o futuro da internet e das finanças.
De forma generalista, ele explica que, embora soe como um termo complexo, a tokenização é, na verdade, um conceito bastante simples e inovador. “Imagine transformar qualquer coisa de valor em unidades digitais, que são chamadas de tokens, e registradas em uma espécie de livro-razão digital inviolável, conhecido como blockchain”, disse.
O especialista esclarece que a propriedade dos tokens é rastreada em uma rede blockchain, que cria um registro permanente. Enquanto a tecnologia blockchain registra as transações dos tokens entre os participantes do mercado. Na ponta disso tudo, os chamados smart contracts (contratos inteligentes) ditam as regras de negócios às quais os tokens estão sujeitos.
No Brasil, ele enfatiza que o sistema financeiro está prestes a passar por uma grande mudança liderada pelo Drex, a moeda digital do Banco Central, já que as possibilidades serão ainda maiores, pois a moeda digital estará integrada ao sistema de pagamentos do Banco Central, tornando as operações mais rápidas e econômicas.
O mercado de tokens é bastante amplo e diferente dos bancos de dados tradicionais, que são gerenciados por uma única entidade. O blockchain é mantido por uma rede de computadores que trabalham em conjunto, explica Oioli. E para entrar neste mercado, é necessário encontrar uma plataforma que transforme ativos em tokens e depois os comercialize. São diferentes faixas de preços, de valores baixos até quantias na casa dos milhares de reais.
Da mesma forma, a rentabilidade desses tokens varia de acordo com o ativo escolhido e cada empresa que os comercializa apresenta estimativas e projeções que podem estar erradas, seja para um lucro maior ou até prejuízos. Outro ponto citado por Oioli é analisar o ativo ao qual o token está atrelado, pois eles têm como lastro uma garantia real, como, por exemplo, um imóvel. E a tendência, segundo o especialista, é que a multiplicação e os investimentos sigam aumentando exponencialmente.
“O desenvolvimento tecnológico é inesgotável e essa evolução desafia a ciência jurídica a criar leis, interpretar os avanços à luz das normas existentes”, disse.
Nesse cenário, Oioli destaca a importância dos contratos inteligentes, que são programas de computador que funcionam como uma espécie de protocolos de transações que têm como função controlar ou documentar legalmente atos ou ações relevantes de um contrato de forma automática e no âmbito do blockchain. Ainda assim, ele diz que não é tangível para alguns a vantagem da tokenização.
Entre os exemplos citados, o especialista destaca a eficiência operacional, já que a tokenização de ativos ajuda na automação do simples envio ou recebimento de liquidações e liberação de transações, garantindo transações mais rápidas.
A transparência é outro ponto, pois o blockchain oferece o benefício da transparência e rastreabilidade por padrão, uma vez que todas as transações em uma rede são acessíveis a todos os participantes da rede.
A divisibilidade de ativos, ou seja, a conversão de ativos em frações também é outro ponto de destaque, pois permite melhores perspectivas de liquidez, reduz barreiras de entrada de novos investidores e viabiliza o conceito de propriedade compartilhada.
Outros ganhos citados pelo especialista envolvem a garantia de uma identidade segura e os custos de gestão reduzidos, pois optar por tokenizar um ativo e utilizar uma plataforma ou mercado descentralizado automatizará muitas partes desse processo, economizando tempo e custo; além de que a tokenização de ativos aumentaria a liquidez de um ativo, pois facilita a propriedade fracionada, o que elimina os descontos por iliquidez. Além disso, a venda de pequenas frações de propriedade permite aos proprietários cobrar um preço justo de mercado.
Reportagem publicada originalmente no Diário do Comércio. Clique aqui para acessar